quinta-feira, 19 de março de 2015

Mulher! Mãe! Guerreira!

Neste mês, em que logo teremos o Dia Internacional da SD e em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher, nada mais justo do que uma homenagem às mulheres brilhantes que foram escolhidas para gerar, criar, educar, amar (...) pessoinhas tão especiais e adoráveis... Linda mensagem!



UMA MÃE ESPECIAL
(Erma Bombeck)


Deus, passeando sobre a terra, seleciona seus instrumentos para a preservação da espécie humana com grande cuidado e deliberação. À medida que vai observando, Ele manda seus anjos fazerem anotações em um bloco gigante.

"Elisabeth Souza... vai ter um menino. Santo protetor da mãe: São Mateus".

"Mariana Ribeiro... menina! Santa protetora da mãe: Santa Cecilia".

"Claudia Antunes... esta terá gêmeos. Santo protetor... Mande São Geraldo protege-lá. Ele está acostumado com quantidade.

Finalmente Deus dita um nome a um dos anjos, sorri e diz: "Para esta, mande uma criança com deficiência".

O anjo cheio de curiosidade pergunta: "Por que justamente ela, Senhor?! Ela é tão feliz".

"Exatamente", responde Deus, sorrindo. "Eu poderia confiar uma criança com deficiência a uma mãe que não conhecesse o riso?! Isto seria cruel!!!"

O anjo fica angustiado: "Mas será que ela teria paciência suficiente? Se não, ela vai acabar se afogando num mar de desespero e auto compaixão...".

Deus responde: "Quando o choque e a tristeza passarem, ela controlará a situação. Eu a estava observando hoje, ela tem um conhecimento de si mesma e um senso de independência que são raros e, ao mesmo tempo, tão necessários para uma mãe. Veja, a criança que vou confiar a ela tem todo o seu mundo próprio. Ela tem que trazer esta criança para o mundo real... e isto não vai ser nada fácil".

"Mas, Senhor, eu acho que ela nem acredita em Deus!..."

Deus sorri. "Isso não importa! Dá-se um jeito. Esta mãe é perfeita. Ela tem a dose exata de egoísmo de que vai precisar".

O anjo engasga. "Egoísmo! Isto é uma virtude?!"

Deus balança a cabeça afirmativamente. "Se ela precisar se separar da criança... ela não vai sobreviver. Sim, aqui está a mulher a quem eu vou abençoar com uma criança com necessidades especiais. Ela ainda não tem consciência disto, mas ela será invejada. Ela nunca vai considerar banal qualquer palavra pronunciada pelo seu filho. Por mais simples que seja um balbucio desta criança, ela o receberá como um grande presente. Nenhuma conquista da criança será vista por ela como corriqueira. Quando a criança disser MAMÃE pela primeira vez esta mulher será testemunha de um milagre e saberá recebê-lo.Quando ela mostrar uma árvore ou um pôr-do-sol ao seu filho e tentar ensiná-lo a repetir as palavras árvore e sol, ela será capaz de enxergar minhas criações como poucas pessoas são capazes de vê-las. Eu vou permitir que ela veja claramente as coisas que eu vejo: ignorância, crueldade e preconceito. Então vou fazer com que ela seja mais forte do que tudo isso. Ela nunca estará sozinha. Eu estarei ao seu lado a cada minuto de cada dia de sua vida, porque ela estará fazendo o meu trabalho e estará aqui ao meu lado".

"E qual será o santo protetor dessa mãe!", pergunta o anjo, com a caneta na mão.

Deus novamente sorri.

"Nenhum! Basta que ela se olhe no espelho".




segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Exemplo de valentia!

Matéria do site Movimento Down, 12/01/2015:



"A Mulher que não deveria existir




Quando criança, Gisela Groβer escapou das engrenagens mortíferas dos nazistas. Hoje, ela faz parte do pequeno grupo de idosos na Alemanha, que têm síndrome de Down.

“Lá embaixo é escuro, eu não quero entrar lá“: Gisela Großer Foto: Heinz Heiss

Ela chegaria, no máximo, aos 25. Com um pouco de sorte, vitaminas e um tratamento com injeções, talvez até os 30 anos. Esta foi a previsão dos médicos. Ela não mereceria viver, sentenciaram os nazistas que queriam livrar o povo de pessoas como ela. Gisela Groβer não sabe de nada disso. A pequena mulher de grande teimosia só se interessa pelas figuras dos livros de história e dos jornais. Ela desconhece as letras. Ela não se aborrece com a política, mas sim com os portões de jardim que são esquecidos abertos, fechando-os um a um quando passa por eles. Então ela comemora como se tivesse feito uma travessura. Quando ela ri, o seu rosto parece um sol – com vários raios em torno dos enrugados olhos azuis.

Quando Gisela Groβer nasceu, em 20 de fevereiro de 1942, em Riedlingen, na Alta Bavária, com olhos estranhamente oblíquos, uma cardiopatia e um cromossomo a mais, a eutanásia infantil já havia começado no Terceiro Reich. “Idiotia Mongolóide” é o que constava no diagnóstico e na sentença de morte. Pois, naquela época, todo o médico, toda parteira, toda maternidade era obrigada a comunicar o nascimento de crianças com deficiência. Contudo, no caso do bebê de Riedlingen, parece que todos, milagrosamente, fecharam os olhos – e esta foi a sua salvação. A saudável senhora de 72 anos faz parte do pequeno grupo de sobreviventes idosos na Alemanha com síndrome de Down.
A mulher que não deveria existir brada tanto quanto suas cordas vocais permitem. “Me deixa em paz”, grita ela para o irmão Ulrich, “me deixa, idiota.” É domingo, um pouco antes das dez, e Gisela Groβer está prestes a chegar atrasada para a missa. “Mas agora vamos, vamos”, alerta o irmão e faz um movimento batendo com as palmas das mãos. É um jogo que ambos conhecem e que está para a sua rotina, assim como o pãozinho quente está para o café da manhã. Sem alguém que ficasse em cima, Gisela esqueceria o tempo – embora tenha ajustado com precisão os seus quatro despertadores. Sem vontade, ela permite que lhe coloquem o casaco de inverno sobre os ombros, fica irritada por ter que levar o andador de rodinhas. “Sempre esta porcaria de carrinho”, resmunga ela e marcha em direção ao badalar dos sinos em meio a lama formada pela neve derretida.

Em Riedlingen, Gisela Groβer é tão conhecida quanto o padre. Na padaria, ela ganha guloseimas, no cemitério, a seu modo, ela fez amizade com os vizinhos – ela distribui água benta e olhares curiosos. Há exatos quatro anos, ela retornou à parte do sobrado, onde vive com o seu irmão Ulrich. Ele ousou o que ninguém achava que ele fosse capaz de fazer: primeiramente, cuidar da mãe inválida até a sua morte, e depois, tirar a sua irmã mais velha com deficiência intelectual do asilo. “Até hoje, eu nunca me arrependi”, diz Ulrich Groβer, calças de couro pretas, pulôver listrado e sempre disposto a fazer piadas. Ele entregou o seu apartamento em Berlim-Kreuzberg, parou de lamentar a falência da empresa de consultoria financeira na qual trabalhava, e voltou para a sua terra natal. Alta Suábia católica ao invés do descolado bairro berlinense, pensão, ao invés de auxílio desemprego – para o homem de 58 anos, uma decisão que trouxe benefício a todos, garante ele.

Metade da igreja se volta para Gisela Groβer, quando, no meio do hino, ela irrompe missa adentro. Ela se dirige à possível vaga de estacionamento para o seu andador, uma coluna, próxima ao altar, e pega a sua bolsa tiracolo rosa. Sobre a bolsa, a estampa da Hello Kitty, dentro dela, o livro de orações. As pessoas abrem espaço para a retardatária. Ir sozinha à igreja é o ritual de domingo e um exercício de independência. A aposentada é baixa e sempre encontra alguém que abra a pesada porta da igreja para ela passar. Ela não chega a medir nem um metro e cinquenta e, sentada no banco da igreja, mal alcança o chão com as suas botas.

Para Gisela Groβer, muitas coisas representam um eterno exercício de paciência. Ela testa a paciência dos paroquianos, balbucia algumas palavras para ela mesma, conta o dinheiro que coloca no cesto de doações. “Me deixa”, diz ela afastando aos gritos a sua vizinha que tenta lhe estender a mão na hora dos cumprimentos. Ela só estende a mão ao jovem padre, olhando-o nos olhos com cara de séria.

O seu jeito direto de ser é ao mesmo tempo chocante e digno de carinho. Gisela Groβer diz o que pensa. Ela expressa a sua rejeição e a sua simpatia, se permite tomar pessoas totalmente estranhas nos braços, lhes fazendo elogios. É a campeã da paquera, frágil, suave, uma penugem branca sobre a cabeça, como a espuma das ondas. No mais escrachado dialeto suábio, ela formula frases quase incompreensíveis, engole metade dos sons e, vez ou outra, gargalha de alegria.

O inverno cobriu o cemitério de neve. “Oi mamãe”, cumprimenta Gisela Groβer e vai levando o seu andador com a vela até a sepultura. Ela se senta no andador, como se fosse uma cadeira. “Tudo de bom para o seu aniversário e que você esteja no céu junto de Deus.” Desde a morte de sua mãe Thilde, ela logo passou a vir diariamente até aqui para estas conversas, colocando desta forma a sua tristeza para fora, horas a fio e em círculos intermináveis. Após dois ou três anos, a necessidade de falar diminuiu.

“Lá em baixo é escuro”, suspira Gisela Großer, “eu não quero entrar lá, lá eu vou apodrecer.” De repente ela tem pressa de se despedir, afasta o gorro vermelho nervosamente dos olhos. Ela está ficando com frio e em casa tem assado com repolho roxo e bolinhos.

Ninguém sabe dizer ao certo como Gisela Groβer escapou dos delírios de aniquilação do Terceiro Reich. O médico no Hospital de Riedlingen a teria protegido, acredita o seu irmão. “A mãe tem condições de cuidar sozinha da filha”, teria dito ele após o parto. A família morava em Heiligkreuztal, na área de um convento afastado, depois de Riedlingen, onde todo mundo conhecia todo mundo e forasteiros eram raros. No andar superior da mansão em frente à igreja, a família Groβer tinha paz. O pai, um procurador bem posto, a mãe uma católica devotada que havia trazido seis filhos ao mundo.

O medo do pior sempre esteve presente, lembra a irmã de Gisela, Mechthild Zimmermann. A mãe chegou a ter que presenciar a forma como a bebê com deficiência de uma boa amiga lhe foi tirado – foi dito que a menina seria melhor cuidada em um abrigo. Pouco tempo depois, chegou uma carta dizendo que, infelizmente, a criança havia falecido.


* O medo do pior esteve sempre presente.

A trilha para a morte era cuidadosamente planejada. Três peritos da Comissão do Reich decidiam com base em um formulário de notificação, quem seria encaminhado para um dos departamentos especializados infantis, vindo para Stuttgart ou para Eichberg. Uma overdose de sonífero, misturada à comida ou injetada, matava a criança. Elas morriam por paralisia respiratória, falência circulatória ou pneumonia. Estima-se em cerca de no mínimo 5000 o número de vítimas.
Gisela Groβer é praticamente engolida pelo estofamento da poltrona da sala. À tarde, eles selecionam as fotos – ela coloca uma ao lado da outra, alinhando os cantos com precisão. “A gente tem que por todas em um saquinho”, insiste ela e segura algumas de cabeça pra baixo. A sua visão piorou, as costas curvadas doem e, às vezes, a aposentada não consegue controlar a evacuação. Os médicos corrigiram a expectativa de vida de pessoas com síndrome de down para 60 anos, Gisela Groβer está bem acima da média. Em função das doenças relacionadas ao problema genético, antigamente ninguém esperaria que ela vivesse tanto.

Seu irmão Uli tem que intervir cada vez com maior frequência, seu cuidador, crítico e amigo, que ela beija na bochecha, para depois lhe dar um tapinha no bumbum. Ela sabe como aborrecê-lo. “Ele sempre veste a minha roupa de baixo”, denuncia, amenizando depois com um sorriso: “Em casa eu estou sempre feliz.”"

Tradução: Christine Ilge de Pietro

Fonte; http://www.badische-zeitung.de/panorama/die-frau-die-es-nicht-geben-duerfte- See more at: http://www.movimentodown.org.br/2015/01/mulher-que-nao-deveria-existir/#sthash.qeoaCzuj.dpuf





Sempre digo que nosso Bê é uma criança muito valente. Ele aceita tudo na maior tranquilidade... Fisio, Fono, Estimulação, brincadeiras, apertos, cheiros, viagens, banho, comida... Verdadeiramente temos um anjo em nossa família.
Lendo um pouco sobre a Senhora Gisela, vejo que a valentia é marca registrada de quem tem SD, pois ela ultrapassou barreiras desde o seu nascimento e não perdeu a ternura ao viver sua humilde vida na Alemanha. Nossos bebezinhos também são guerreiros e valentes, pois ter uma rotina tão movimentada e algumas vezes dura desde pequenininhos não é para qualquer um. Os pais destas crianças também tem seu mérito. Se desdobrar para o trabalho, casa, família, além de terapias e mais afazeres não é tão fácil quanto parece.
Fomos escolhidos para acolher seres especiais e espero estar aqui para ver as rugas ao redor dos olhos meigos de meu filho. Desejo a ele muitos anos de vida, com muita saúde, paz e felicidade... Bernardo é um bebê que, sim, deveria existir!

Com essa carinha linda já agitando pela manhã.



Upa cavalinho!