sábado, 12 de abril de 2014

Um texto que diz tudo.

Pensar na sensação de saber que nosso bebê não seria tal qual o esperado nos trouxe certa ansiedade. Será que ele poderá fazer tudo aquilo que idealizamos? Será ele um jogador de futebol? Será um profissional de renome? Será um bebê de capa de revista?
Tantas perspectivas... Tantos planos e sonhos...
Nosso Bernardo seria muito mais do que imaginamos. Ele nos ensinaria o amor incondicional e imensurável que se pode sentir por alguém.
Procurando textos de mães que passaram por esta experiência, encontrei um que fala exatamente da sensação que sentimos ao saber que nosso bebê possui SD.
Emily Perl Knisley também é mãe de um filho com SD, que nasceu em 1974. Ela é uma escritora inclusiva, que oportunizou um papel a uma cadeirante e ao próprio filho, Jason.
Eis o testo:


BEM VINDO À HOLANDA
 por Emily Perl Knisley, 1987

"Frequentemente, sou solicitada a descrever a experiência de dar à luz a uma criança com deficiência - Uma tentativa de ajudar pessoas que não têm com quem compartilhar essa experiência única a entendê-la e imaginar como é vivenciá-la.

Seria como...

Ter um bebê é como planejar uma fabulosa viagem de férias - para a ITÁLIA! Você compra montes de guias e faz planos maravilhosos! O Coliseu. O Davi de Michelângelo. As gôndolas em Veneza. Você pode até aprender algumas frases em italiano. É tudo muito excitante.

Após meses de antecipação, finalmente chega o grande dia! Você arruma suas malas e embarca. Algumas o
horas depois você aterriza. O comissário de bordo chega e diz:

- BEM VINDO À HOLANDA!

- Holanda!?! - Diz você. - O que quer dizer com Holanda?!?! Eu escolhi a Itália! Eu devia ter chegado à Itália. Toda a minha vida eu sonhei em conhecer a Itália!

Mas houve uma mudança de plano de vôo. Eles aterrissaram na Holanda e é lá que você deve ficar.

A coisa mais importante é que eles não te levaram a um lugar horrível, desagradável, cheio de pestilência, fome e doença. É apenas um lugar diferente.

Logo, você deve sair e comprar novos guias. Deve aprender uma nova linguagem. E você irá encontrar todo um novo grupo de pessoas que nunca encontrou antes.

é apenas um lugar diferente. É mais baixo e menos ensolarado que a Itália. Mas após alguns minutos, você pode respirar fundo e olhar ao redor, começar a notar que a Holanda tem moinhos de vento, tulipas e até Rembrants e Van Goghs.

Mas, todos que você conhece estão ocupados indo e vindo da Itália, estão sempre comentando sobre o tempo maravilhoso que passaram lá. E por toda sua vida você dirá: - Sim, era onde eu deveria estar. Era tudo o que eu havia planejado!

E a dor que isso causa nunca, nunca irá embora. Porque a perda desse sonho é uma perda extremamente significativa. Porém, se você passar a sua vida toda remoendo o fato de não ter chegado à Itália, nunca estará livre para apreciar as coisas belas e muito especiais sobre a Holanda."




Esta experiência nos mostrou ainda mais a ver as coisas com outros olhos e aproveitar cada situação que a vida nos oferece. Se nosso bebê não tivesse um cromossomo a mais, ele não seria assim, o NOSSO Bernardo, com suas peculiaridades, com seu jeitinho de ser, com seu olhar meigo e encantador.
Talvez a vida teria sido mais fácil sem exercícios de estimulação, viagens para exames, fisioterapias, acompanhamentos... Quem sabe?

O mais importante não é para onde você viaja, mas sim o que você faz para tornar sua viagem inesquecível. Poderíamos ter ido à Itália, mas a nossa Holanda é mais do que especial. É o nosso lar, onde amamos estar e onde viveremos para sempre a mais maravilhosa vida da família do Bernardo!

Família do Bernardo




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